Crédito à habitação: negociar spread é possível
Crédito à habitação: negociar spread é possível
Para baixar o spread dos seus empréstimos tem de o negociar com o banco. Saiba como fazer e como pode baixar o spread
Baixar o spread dos seus empréstimo é uma forma que tem ao seu dispor para baixar a prestação que paga aos bancos. Assim, pelo dinheiro que pediu tem de pagar uma taxa de juro. Se contratou uma taxa variável, esta é composta por duas partes: o indexante, ou seja, a Euribor (que pode ser a 3, 6 ou 12 meses) e o spread.
Se não depende de si o valor da Euribor, o mesmo já não se pode dizer do spread. Numa altura em que se fala da possível subida da Euribor, tentar negociar junto do seu banco o spread pode ajudar a evitar o desequilíbrio do seu orçamento familiar.
Taxa de juro e spread
Quando pede um financiamento ao banco (ou a qualquer outra instituição financeira), é-lhe apresentada uma proposta onde consta, entre outras informação relevante, quanto tem de pagar de taxa de juro.
Na realidade, apresentam-lhe duas taxas de juros. A Taxa Anual Nominal (TAN) e a Taxa Anual Efetiva Global (TAEG). A primeira traduz quanto vai pagar de juros e a segunda, para além dos juros, inclui todos os restantes custos que tem de pagar. Ou seja, comissões e seguros.
A TAN, se o crédito for à taxa indexada, resulta do somatório de duas componentes, como já referimos, a Euribor e o spread.
A Euribor traduz o custo do dinheiro no mercado interbancário, ou seja, quanto vai pagar o banco pelo dinheiro que lhe vai emprestar. O spread, por seu lado, representa o lucro que o banco vai ter com esse financiamento.
Como fixam os bancos o spread?
Desde logo, importa que tenha presente que o negócio principal dos bancos é emprestar dinheiro. Assim, sendo o spread a margem de lucro que obtém com o negócio, esta depende, como em todos os negócios, do próprio risco do negócio.
Assim, ao fixar o spread para o seu empréstimo o banco vaiconsiderar:
- Valor do empréstimo
- Garantia do empréstimo
- Grau de cobertura do valor do empréstimo – ou seja o rácio entre o valor da garantia e o valor do empréstimo
- Perfil de risco de crédito
- Contratação de outros produtos bancários, como cartões de crédito ou seguros, por exemplo
O que fazer para baixar o spread
Sabendo como fixam os bancos o spread, torna-se mais fácil saber o que fazer para baixá-lo. Senão vejamos:
Valor do empréstimo
Já reparou que quanto maior o valor do empréstimo, menor o spread que o banco lhe cobra? Aparentemente não faz sentido, mas se pensar em termos absolutos verá que já faz.
Se pedir ao banco 10.000€ com um spread de 2% o banco ganha 200€. Mas se pedir 50.000€ com um spread de 1,5% o banco vai ganhar 750€. Ou seja, com a “ilusão” de que se aumentar o valor do crédito está a pagar menos spread está, de facto, a dar a ganhar mais dinheiro ao banco.
Por isso, se lhe for sugerido aumentar o valor do empréstimo como forma de baixar o spread, não aceite.
No crédito habitação onde por via da concorrência os spreads são baixos, há, no entanto, um trunfo que pode usar na altura da contratação: a entrada inicial.
De facto, quanto maior for a entrada inicial, ou seja, quanto maior for o montante com que entra para a compra da casa, menor será o valor que o banco lhe terá de emprestar. Portanto, menor o risco do negócio e, com isso, conseguirá negociar a redução do spread.
Garantia do empréstimo
Para lhe conceder qualquer empréstimo, o banco pede garantias. Esta á a forma do banco se assegurar que vai pagar o empréstimo.
As garantias podem ir desde o simples aval, a depósitos a prazo, a bens imóveis. Do tipo de garantia que estiver disposto a dar dependerá a sua capacidade de negociar o spread.
Se num crédito pessoal der como garantia, simplesmente o seu aval pessoal, através da assinatura de uma livrança, o spread será seguramente maior do que se dar como garantia um depósito a prazo que tenha constituído no banco. Se deixar de pagar o empréstimo, o banco usa o depósito a prazo para o seu pagamento, recuperando o seu valor mais rapidamente do que se tiver de usar a livrança.
Num crédito habitação, se para além da hipoteca do imóvel (garantia obrigatória) juntar fiadores o spread será seguramente menor. Já que cobrar a prestação ao fiador tem menos custos do que executar uma hipoteca que implica colocar a sua casa à venda.
Assim, quanto maior for a garantia que der ao banco (mesmo depois de contratado o empréstimo), menor o risco do negócio e menor o spread.
Rácio entre valor da garantia e valor do empréstimo
Este é um valor importante e está ligado com os dois anteriores. Quanto maior for este rácio, ou seja, quanto maior for o grau de cobertura do empréstimo menor será o spread.
Se num crédito de pessoal de 10.000€ der como garantia um depósito a prazo de 5.000€, o spread será seguramente mais alto do que se der como garantia um depósito a prazo de 10.000€. Neste último caso, se deixar de pagar o empréstimo será totalmente liquidado com o valor do empréstimo, enquanto no primeiro caso não. Daí o spread no primeiro caso ser mais alto.
No crédito habitação a lógica é a mesma. Se o banco fizer uma hipoteca sobre o imóvel por 200.000€, e pedir ao banco 150.000€ o spread será mais alto do que se apenas pedir 100.000€. É certo que a casa vale mais do que o empréstimo (aliás, os bancos apenas emprestam 80% do valor da avaliação da casa) mas o risco é maior.
No entanto, no crédito habitação pode usar este rácio para baixar o spread. Se comprou a casa há uns anos, dada a valorização do mercado imobiliário, hoje a casa pode ter valorizado. Por outro lado, já amortizou capital. Ou seja, o LTV do seu empréstimo já deve ter baixado.
Peça uma nova avaliação ao imóvel, calcule o seu LTV. Se tiver recuado, fale com o banco e use este dado para reduzir o spread.
Perfil de risco de crédito
O seu perfil de risco de crédito, ou seja, o seu historial creditício tem primordial importância na altura de pedir um crédito e negociar o spread.
Ter cumprido sempre as suas obrigações financeiras é um trunfo importante. Os bancos têm acesso ao seu Mapa de Responsabilidades de Crédito onde poderão consultar se cumpriu todos os pagamentos nos últimos cinco anos.
Se alguma vez entrou em incumprimento, como essa informação consta nesse mapa, o banco considera que existe um risco potencial de incumprir novamente e agrava o seu perfil de risco. Com isto, vai pagar um spread superior.
Se tem o historial limpo, use esse facto na negociação. Ainda assim, se na altura da contratação tinha incumprimentos e já passaram cinco anos desde essa data fale, novamente, com o banco e use esse argumento como forma de negociar a redução do spread.
Contratação de outros produtos bancários
Não é só com o spread que os bancos ganham dinheiro. Também ganham com a contratação de outros produtos com os quais ganham comissões, também elas receitas dos bancos.
Se o banco obtiver lucro noutro produto que aceite contratar, como o cartão de crédito ou seguros, maior abertura terá para lhe reduzir o spread.
Mas, tenha atenção e faça contas. Veja se o que vai gastar com o produto lhe compensa o que poupa na redução do spread. Se não compensar não contrate.
Vínculo laboral estável ajuda a baixar o spread
Este é outro dos fatores que não influencia diretamente o spread, mas pode ser usado por si e para o qual os bancos também olham.
Se tiver uma situação profissional estável, ou seja, se for efetivo, pode beneficiar de um spread menor face a quem é trabalhador independente ou está a contrato.
Assim, se quando contratou o financiamento não estava efetivo, quando estiver fale com o banco e tente negociar o seu spread.
Em conclusão, negociar o spread é sempre algo que deve fazer, antes e durante a vida do empréstimo, lembre-se que está em causa o equilíbrio do seu orçamento familiar.